domingo, 29 de janeiro de 2012

silêncio

há muito tempo apaixonei-me pela poesia de um poeta. ele tinha um poema que começava assim: "silêncio, a palavra respira." já não sei bem porquê, mas pelas circunstâncias da vida acabei por conhecer pessoalmente o casimiro, mas sempre quis ficar apenas com as palavras dele, as dos livros, e por isso os nossos encontros voltaram rapidamente a ser eu, a lê-lo. apesar de tudo, houve uma coisa que ele me disse de que me lembro sempre que ponho um cd a tocar em repeat: "quando escolho um cd para ouvir, ouço-o o dia todo." e cada vez me faz mais sentido. pegar num disco e ouvi-lo repetidamente. e de cada vez descobrir uma coisa nova, ou de cada vez senti-la, à música, de uma forma diferente, dependendo da sensibilidade do momento. acabei de chegar a casa, e entrego-me ao silêncio, nas suas mais diferentes formas, mas principalmente ao silêncio da alma, ouço "fur alina" do arvo part, em repeat. e à primeira nota do piano lembro-me de uma herdade no alentejo, de um fim-de-semana de sol e em muito especial. hoje seria uma noite para ficar em silêncio, a ouvir o arvo part e a ler o casimiro, mas os livros ficaram em lisboa e restam-me alguns dos poemas de que me lembro quase de cor. talvez os traga da próxima vez, na mala que vai sempre vazia e que vem sempre cheia, de coisas que não cabem em mim, de coisas que quero ter outra vez, que achava que não precisava, mas afinal preciso. há dias em que acho que podia ficar em silêncio, porque o que digo não faz sentido aos outros, nem quer ser ouvido. pequenina. há dias em que não os quero ouvir porque se ficarem em silêncio talvez possa só imaginar que bonitos que são. às vezes a ilusão de uma história faz mais sentido. às vezes posso só ficar a imaginar as bochechas da rosa, ou como seria se lhe contasse uma história, às vezes imagino só a barriga da menina do sorriso mágico a crescer e peço que não se esqueça de mim, talvez se pensar muito nisto tudo elas sintam que estou ali mesmo ao lado. não estou e às vezes o silêncio não chega na hora certa, chega tarde demais. "se não posso mudar o mundo deixa-me ao menos sacudir a areia das tuas sandálias".